sábado, maio 05, 2007

Digg e a Revolta 2.0

O poder da internet para viabilizar a pirataria todos já conhecem, e estão acostumados a ver os episódios de processos e fechamentos de sites que permitem, ajudam ou até ignoram que seus usuários estejam praticando este crime.

Recentemente a internet viu ser divulgado um código que permite acessar o conteúdo de discos Blu-Ray e HD-DVD, que até então eram bastante seguros contra a pirataria. Esse código é a porta de entrada para a pirataria total destes discos, e o resultado disso é que milhões e milhões de pessoas de todo o mundo começaram a divulgar esta descoberta, e as notícias mais votadas do Digg começaram a ser sobre o código.

Preocupados com as conseqüências disso, após receberem avisos de que estavam disponibilizando conteúdo que era de propriedade alheia, pelas empresas relacionadas, o Digg tomou uma atitude arriscada e impensada: começou a apagar todos os tópicos que divulgavam o código (àquela altura os tópicos mais acessados) e banir os usuários que os postavam.

O resultado é o mais óbvio: Revolta 2.0

Os usuários ficaram completamente desacreditados e indignados com o que o Digg, um site inteiramente de conteúdo gerado pelos usuários estava fazendo, e não demorou para iniciarem o levante.

Em pouquíssimo tempo a página do Digg foi dominada por posts com o tal do código, que apareciam a cada segundo, sem que nada pudesse ser feito para controlar, o que obrigou o CEO a postar uma nota:

"Today was an insane day … In building and shaping the site I’ve always tried to stay as hands on as possible. We’ve always given site moderation (digging/burying) power to the community. Occasionally we step in to remove stories that violate our terms of use (eg. linking to pornography, illegal downloads, racial hate sites, etc.). So today was a difficult day for us. We had to decide whether to remove stories containing a single code based on a cease and desist declaration. We had to make a call, and in our desire to avoid a scenario where Digg would be interrupted or shut down, we decided to comply and remove the stories with the code.

But now, after seeing hundreds of stories and reading thousands of comments, you’ve made it clear. You’d rather see Digg go down fighting than bow down to a bigger company. We hear you, and effective immediately we won’t delete stories or comments containing the code and will deal with whatever the consequences might be. If we lose, then what the hell, at least we died trying." Kevin Rose

(Resumindo, ele diz que sempre tentou deixar o site sem interferências, apesar de ter uma moderação constante para evitar links de pornografia, preconceito, etc, e que foi uma difícil decisão a que tomaram, para evitar que o Digg fosse interrompido ou fechado. Mas depois de ver centenas de histórias e milhares de comentários sobre o assunto, "nós ouvimos vocês, e a partir de agora nós não vamos deletar notícias ou comentários que contenham o código, e vamos lidar com qualquer que sejam as conseqüências. Se nós perdermos, então que se dane, pelo menos nós morremos tentando.")


Um bom discurso para alguém que cometeu um tremendo erro, enfrentando o exército de usuários da internet 2.0.

Quando vejo isto, me lembro, obviamente, do YouTube. Um site que tem uma infinidade de conteúdo "pirata" e continua funcionando, apesar de tantos processos e brigas legais.

A internet ainda é uma terra de ninguém, onde a massa ainda é mais poderosa do que empresas e leis. Os usuários reinam livres, dizendo o que querem, para quem quiser ouvir. Os atingidos pela censura e pelas leis são os intermediários, os sites que viabilizam a comunicação de todos.

O que resta a eles é umas das duas opções:
1) Ficar do lado dos usuários e sucumbir às grandes empresas.
2) Se juntar às empresas e perder os usuários.

Qualquer que seja a escolha, seu futuro é certo: o fim.

Quem se dá melhor são aqueles que inventam estes sites, ganham fama, vendem por milhões, e conseguem ótimos empregos.

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